Às vezes, no meio da pressa de um dia qualquer, eu me pego observando a fumaça do café subindo preguiçosa, como se tivesse todo o tempo do mundo. E penso que talvez seja isso que falte nas nossas rotinas: um pouco mais de tempo pra olhar a fumaça, escutar o silêncio, mastigar os pensamentos.
Foi entre essas pausas — pequenas e honestas — que senti vontade de escrever de outro jeito. Não pra ensinar nada, nem pra provar coisa alguma. Mas pra conversar. Daquele tipo de conversa que começa com “senta aqui” e termina com “obrigado por me ouvir”.
Nasceram daí palavras que não cabem em regras de tamanho ou em textos padronizados. Vieram crônicas que falam daquilo que mora escondido na gente: uma saudade sem nome, um incômodo sem motivo, um gesto bonito esquecido no meio do dia. Vieram reflexões sobre livros que me atravessaram, opiniões que brotaram entre uma caminhada e outra, memórias que insistem em voltar quando o mundo silencia.
Esse não é um blog pra ensinar a viver, nem a escrever. É um espaço — simples, como pão na chapa e café coado — pra quem também sente que tem mais coisa dentro do que consegue dizer. Um lugar onde escrever é caminhar ao contrário: em vez de ir pra fora, a gente vai pra dentro.
Talvez seja isso. Talvez seja hora de virar a bússola, inverter o sentido, e começar a escutar mais o que pulsa em silêncio. Porque, no fundo, a gente sempre soube: o que realmente importa nunca fez muito barulho.